[Resenha]: "O Trem dos Órfãos", de Christina Baker Kline

 






Vivian tinha 7 anos quando sua família deixou para trás as dificuldades da vida na Irlanda e mudou-se para os Estados Unidos. Dois anos depois, em 1929, ela perdeu os pais e os irmãos no incêndio que atingiu o cortiço onde moravam, em Nova York. Sozinha no mundo aos 9 anos de idade, Vivian foi parar no Trem dos Órfãos. Aqui, a ficção esbarra na realidade porque o movimento Orphan Train (Trem dos Órfãos) existiu e foi o precursor do sistema de adoção dos Estados Unidos. Consistiu em um ambicioso, e às vezes questionável, programa de bem-estar que transportava crianças órfãs, abandonadas ou desabrigadas de cidades populosas do leste dos Estados Unidos para lares adotivos localizados principalmente em áreas rurais do Meio-Oeste em desenvolvimento. Estima-se que entre 1854 e 1929, cerca de 200.000 crianças foram transportadas nesses comboios de órfãos. Algumas crianças foram calorosamente recebidas por suas novas famílias. Outras foram maltratadas, insultadas ou ignoradas. Alguns desses meninos e meninas vagavam de casa em casa até encontrar alguém que os quisesse. Este, inclusive, foi o destino de Vivian por um tempo. 

Em 2011, 82 anos depois do episódio do Trem dos Órfãos, vamos encontrar Vivian rica, viúva, vivendo sozinha em uma mansão e decidida a organizar o sótão da casa, onde estão guardadas caixas com objetos do seu passado. A ajuda para esta tarefa, ela recebe de Molly Ayer, uma adolescente de 17 anos, órfã de pai e abandonada pela mãe, que precisa cumprir horas de serviço comunitário por ter roubado um livro da biblioteca. Apesar da grande diferença de idade, as duas foram entregues para adoção e lutaram para sobreviver à orfandade, e isso cria um vínculo de amizade entre elas. As caixas quando abertas despertam as lembranças do passado de Vivian entre os anos de 1929 e 1943. Essas lembranças são contadas em capítulos que se alternam com outros, que abrangem vários meses do presente e trazem detalhes da vida de Molly.

As minhas expectativas em relação ao livro eram altas por abordar um gigantesco experimento social e atravessar dois acontecimentos históricos importantes: a Crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial. No entanto, me frustrei. Não achei o livro ruim, mas ele não me empolgou. Acho que apresentar o enredo alternando as histórias atrapalhou um pouco. A parte do livro sobre Vivian é profunda e envolvente, mas a de Molly não é. Saltar para frente e para trás entre o presente e o passado, nestas condições, trouxe um sério descompasso à trama. Além disso, não consegui entender algumas situações. Como explicar, por exemplo, que alguém que sofreu um grande trauma, que foi jogado de um lado pro outro, que sentiu na pele a dor do abandono, abandone também? Difícil de engolir. Sem entrar no mérito do final meio irreal, avalio que o real valor do livro está em lançar luz sobre um episódio estranho e pouco conhecido da história dos Estados Unidos.  😉


Título nacional: O Trem dos Órfãos
Título original: Orphan Train
Autora: Christina Baker Kline
Tradução: Júlio de Andrade Filho
Nº de Páginas: 304
Formato: e-Book
Data de lançamento no Brasil: 2014
Editora: Planeta
Gênero: Ficção histórica

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