[Resenha]: "Herdeiras do Mar", de Mary Lynn Bracht

 






A ocupação japonesa da Coreia começou em 1910 e durou até o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945. Durante este período, os japoneses impuseram um regime de terror na península coreana, e um exemplo disso, foi a escravização sexual de um enorme número de sul-coreanas. As "mulheres de consolo" como eram chamadas, foram forçadas a trabalhar como prostitutas para o uso dos militares japoneses. É dentro desta realidade histórica que o enredo de "Herdeiras do Mar'" se desenvolve.

Hana tem 16 anos e vive com a família na ilha sul-coreana de Jeju. Ela e a mãe, seguindo uma tradição secular, são haenyeo, mulheres do mar. Elas mergulham utilizando apenas o ar dos seus pulmões para coletar frutos do mar. A irmã de Hana chama-se Emi e tem 9 anos. Enquanto Hana e a mãe mergulham, Emi fica  sentada na areia, protegendo os baldes que contém a pesca do dia. Como irmã mais velha, Hana assume a responsabilidade de sempre proteger Emi. Para tanto, é fundamental mantê-la afastada dos japoneses. Então, quando um soldado japonês surgiu inesperadamente na praia, Hana corajosamente atravessou o seu caminho, impedindo que ele chegasse até Emi. Naquele momento, ela salvou a vida da irmã, mas praticamente perdeu a sua, pois foi capturada e depois enviada para um bordel na Manchúria, região chinesa invadida pelo Japão.

A história alterna capítulos ambientados em 1943, que acompanham a vida penosa de Hana, e capítulos ambientados em 2011, que revelam os efeitos da guerra e do desaparecimento da irmã ao longo da vida de Emi. As irmãs, embora distantes, mantiveram-se unidas pelo amor e pela esperança de um dia se reencontrarem. 

"Herdeiras do Mar" é uma ficção, mas aborda uma atividade verídica, injusta, indigna e pouco conhecida. Estima-se que mais de 200.000 mulheres foram retiradas de suas famílias e levadas para prostíbulos, onde foram brutalizadas e humilhadas. Por uma questão cultural, as sobreviventes foram forçadas a sofrer em silêncio por seu passado. Somente em 1991 uma das mulheres encontrou força e espaço para tornar pública sua triste experiência como escrava sexual. Depois, mais mulheres se pronunciaram. Expor esta prática, além de dificultar sua repetição, faz justiça às mulheres vítimas de tamanha crueldade física e psicológica. Para mim, o mérito deste livro está em reverenciar essas mulheres. Vale muito a pena conferir.


Título nacional: Herdeiras do Mar
Título original: White Chrysanthemum
Autora: Mary Lynn Bracht
Tradução: Julia de souza
Nº de Páginas: 366
Formato: eBook
Data de lançamento no Brasil: 2020
Editora: Paralela
Gênero: Ficção histórica

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