[Resenha] "Dias de Abandono", de Elena Ferrante


Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana que escreve com uma honestidade brutal. Ela nunca mostrou o rosto, nem deu pista sobre sua verdadeira identidade, mas escreve de uma maneira tal que o que a gente lê ressoa por muito e muito tempo. "Dias de Abandono" é mais um dos seus intensos romances que lidam com a frustração humana.

Em "Dias de Abandono", ficamos conhecendo Olga, uma dona de casa de 37 anos, que depois de 15 anos de casada é abandonada por Mario, seu marido, com quem tem dois filhos. A separação acontece de repente porque Mario se apaixonou por outra mulher. O retorno improvável do marido e a repentina sobrecarga com os filhos e a casa, causam um enorme atordoamento em Olga. Ela acaba perdendo o equilíbrio interior e mergulha numa espiral de pensamentos obsessivos. Tinha a cabeça toda ocupada por Mario, pelas fantasias que fazia sobre ele e sua nova mulher, pelo exame do passado deles, pelo anseio de tentar entender no que ela havia sido insuficiente, em que havia se equivocado.    

Ao refletir sobre o abandono, Olga se dá conta de que durante o casamento perdeu sua própria vida de vista na medida em que deixou de lado seu ofício de escritora para se dedicar de corpo e alma à família e ao lar. Angustiada com a derrota sofrida, ela passa a não cuidar mais da aparência, começa a usar uma linguagem obscena e esquece dos filhos.  A vida vira um inferno.

Lentamente Olga vai se recuperar, mas a sua história sombria e desesperada deixa na gente a certeza de que os nossos naufrágios sentimentais provocam uma espécie de luto, que devemos aceitar e digerir. É preciso tocar o fundo do oceano para, finalmente, regressar à superfície despida de velhas convicções e pronta para recomeçar. Gostei muito, recomendo!

Livro: Dias de Abandono
Título original: I giorni dell'abbandono
Autor: Elena Ferrante
Tradução: Francesca Cricelli
Páginas: 183
Ano de lançamento no Brasil: 2016
Editora: Biblioteca Azul
Categoria: Literatura estrangeira / Romance

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